terça-feira , 26 novembro 2024
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Desejo, modos de prazer e sexualidade

Investigar o prazer como função de esgotamento ou descarga do desejo, em contraste com um uso do prazer como intensificação do desejo.

O desejo intenso, não despressurizado é inoportuno para o poder.

A sexualidade como dimensão singular do existir coloca em relação tempos e ou movimentos diferenciais que se fundem sem sucumbir na indiferenciação, cujos ritmos coincidem para traçar um plano comum de constituição, coesão e continuidade de dobras ou potências de diferenciação intensivas. Esse modo de acontecer é o motor de uma autêntica fábrica de zonas autônomas do vivo.

Assim como a sexualidade produz a intensificação do vivo, também produz a continuidade da vida intensa: mas a reprodução das condições de continuidade intensiva do vivo contrastam com um uso moral-perverso e desqualificador das práticas sexuais para inseri-las na função de reprodução do poder. A máquina ou formação social, cuja demanda de reposição ou preenchimento de papéis ou funções que a afeta de modo recorrente, engendra um processo reativo de reprodução do vivo, reduzindo, rebaixando e nivelando as práticas sexuais à função de reposição de seus quadros ou prepostos vivos, seduzindo, capturando e investindo o desejo para pô-lo a serviço da reprodução das condições de captura e de reposição do vivo capturado. Promove o direito ao prazer como ísca. Oculta o anzol fatal da frustração, fazendo crer que é um acidente e não seu modo regular de operar essencialmente. Mas, como premio de consolação, promete e devolve um prazer residual, resto que serve para descarregar, conciliar e conformar. Prêmio de consolação para vidas que aprenderam a desistir e desacreditar do gozo pleno, intenso, alegre, real.

Os dispositivos de sexualidade de uma formação social cultivam, investem e incitam práticas sexuais de desejo e de prazer cujos usos e costumes instituem regras reguladoras, enquadrando e segregando atitudes, esquadrinhando o corpo e fixando, pela banalização das paixões, aguilhões morais. Todo esse processo normatizador acaba por desqualificar, quando não excluir, usos intensivos, geradores de uma matéria dinamizadora e inspiradora de novas relações sociais e zonas de liberdade ou de liberação, cujo efeito de fruição recobraria potências inauditas que fazem da vida um acontecimento extraordinário através dessa dimensão do existir.

O desejo e os modos de prostituição efetuam uma função social e política de descarga ou despressurização das forças sexuais para uma economia do desejo que aparentemente não encontra expressão intrínseca nas práticas cotidianas reguladoras da família ou aceitas pelos padrões familiares. Porém geralmente essas práticas acabam por simultaneamente gerir e gerar padrões novos de comportamento que retro-alimentam modulações familiares ao mesmo tempo que reproduzem e se nutrem de valores arcaizantes, operando a passagem necessária que fomenta a variação continuada do desejo, no limite do negativo de uma sexualidade liberada de seu uso reprodutor, o que também acontece com as práticas homossexuais dicotômicas. Esse ponto de vista determina, forma e elege sujeitos-atores e fatores-valores significantes que operam como conectores funcionais no organismo corpóreo da sociedade, cujas repetições de variáveis cumprem um ritual de renovação das velhas caixas subjetivas de ressonância, cuja entropia precisam impedir, ao mesmo tempo que cumpre integrarem-se no investimento permanente das constantes em contínua formação.

Todos esses destratos e descuidos acarretam violentações e esmagamentos do desejo que não seriam tolerados sem ingressarem ao mesmo tempo numa cadeia geradora, transmissora e reprodutora da violência, cujo gozo acontece a cada repasse de aguilhão ou inoculação de falta, rebaixamento ou produção de paixão triste, cumprindo assim também, ao mesmo tempo que tais forças são dobradas e curvadas, seu reempossamento pela retransmissão reguladora do aguilhão.

Desde que a sociedade codificou o sexo como repetição conservadora e/ou repositora da forma, gera uma zona de exclusão da potência imanente do desejo de repetir ou fazer retornar a diferença enquanto afirmação imediata da potência de diferenciar e se multiplicar enquanto tal.

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